Por uma ação educativa intencional

A intencionalidade na ação do professor é quesito de suma importância. Porém, isso só se torna possível se conhecer a raiz de nossas ações, ou seja, em que está fundamentada a nossa prática. É uma opção ideológica ou, apenas, uma repetição?

No texto “Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos” o autor Fernando Becker trata, de maneira competente, dos pressupostos teóricos que contribuem para fundamentar as práxis pedagógicas.

Segundo o autor, a ação do professor não é gratuita ela se baseia em uma epistemologia, isto é, um conjunto de saberes ou uma explicação sobre o desenvolvimento do conhecimento. Entretanto, essa fundamentação teórica pode não ser consciente tornando a prática docente arbitrária ou não-intencional.

De maneira geral, podemos citar três correntes epistemológicas que são mais recorrentes na prática educativa: diretiva, não-diretiva e relacional.


O modelo pedagógico diretivo é angariado pela teoria empirista. Como principais características podemos observar o monopólio da palavra por parte do professor, a necessidade do silêncio, da quietude e a presença do autoritarismo. O professor ocupa o lugar daquele que ensina e que, por isso, detém todo o conhecimento, acredita que seu papel é transmitir o conhecimento para o aluno. Já o discente é uma tabula rasa, sem nenhum conhecimento prévio, ou seja, deve ocupar um lugar passivo nesta relação.

A pedagogia não-diretiva, fundamentada na epistemologia inatista, acredita que o aluno já traz consigo todo o conhecimento e que este, apenas, precisa ser despertado. O professor tem a função de facilitador, intervindo o menos possível. O aluno aprende por si mesmo em um laissez-faire. A carência cultural é entendida como um déficit do individuo, como se lhe faltasse algo ou possuísse um retardo cognitivo e que não o permitiria avançar no desenvolvimento.

Já no modelo pedagógico relacional, o aluno problematiza a sua ação e reflete sobre ela. O professor age intencionalmente e tem consciência de que são necessárias duas condições para que o aluno aprenda:
a                         a-  que o aluno aja sobre o objeto de conhecimento
b               b- que o aluno entre num movimento de tentar internalizar as novidades daquele objetivo, dinamizando seus esquemas anteriores.

Nesta linha, a aprendizagem é sinônimo de construção; o aluno é entendido como protagonista e portador de uma história de vida e há a presença de uma autoridade intelectual.

É importante que o professor conheça as considerações teóricas acerca da pedagogia e que tenha uma postura de crítica epistemológica, ou seja, tome consciência de quais pressupostos teóricos  fundamentam a sua prática. Caso isto não ocorra estará fadado a repetir modelos pedagógicos fundamentados no senso comum. Além disso, o objeto de trabalho do professor é o conhecimento e, por isso, sua prática exige uma postura intencional e consciente.

Texto base: BECKER, Fernando. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. Revista Paixão de Aprender. Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre.





Fernando Becker
É professor da Faculdade de educação e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS

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